Pages

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Meu super-herói completa 60 anos!


No ano passado, em uma dinâmica no grupo de jovens nos perguntaram “qual é o seu super-herói favorito?” Enquanto todos colocavam nomes como Batman, Homem de Ferro e Mulher Maravilha, minha irmã não titubeou e logo escreveu “Meu Pai”. Quando vi aquilo, descobri que minha resposta “a Tempestade, de X-Men” estava errada, pois não poderia ser outro que Paulino Alves de Almeida, meu pai!

Neste dia 25 de janeiro de 2013, meu super-herói completa 60 anos. Enquanto a família está reunida em Mundo Novo (MS) festejando com um bolo de olho de sogra, estou aqui escrevendo este texto porque infelizmente não pude estar presente para lhe desejar os parabéns como deveria, com um forte abraço!

Paulino não é simplesmente um bom pai, até porque não há nada de simples nisso, mas um ótimo pai! Ele já me ensinava a ser esperta e atenta desde bebê, quando me enganava ao trocar o nome das coisas para rir de minha confusão. Foi ele quem fez meu leite matinal até os 17 anos, quando saí de casa para fazer faculdade.

Com toda sua gentileza, batia em minha porta para me acordar e preparava o tradicional “nescau” enquanto me arrumava. Quem o conhece sabe o quanto é sério e de caráter ilibado, mas também é chegado em uma brincadeira! Que o diga minha mãe quando a irritávamos durante a viagem para a casa da vó com palmas, assovios e músicas até que ela nos mandasse ficar quietos. Ficávamos, mas sempre depois de muitas risadas!

Joguei futebol com meu pai até minha adolescência. Hoje, eu e ele estamos sedentários – eu mais do que ele – e trocamos o esporte pelas conversas na área de casa. Quem tem um pai calmo como o meu, sabe que a principal tristeza não é deixá-lo bravo, mas decepcionado. Só eu sei quanto pesava meu peito nas confusões que arranjei aos 13 anos, quando pensei que já era adulta.

Paulino Alves de Almeida é exemplo de persistência, honestidade e bondade. Parece propaganda de político, mas é verdade. Infelizmente, por essas mesmas características, acredito que ele não foi eleito nos pleitos que participou até hoje, pois os “sábios eleitores” dizem que não o escolhem por ser “bonzinho demais”.

Na juventude, fundou partidos políticos acompanhados de bons amigos que guarda até hoje, como a mártir Dorcelina Folador. Abrigava os companheiros do movimento pela reforma agrária, quando isso não era visto com bons olhos – o que não é até hoje por uma parcela da população. Talvez por ter perdido a mãe tão cedo, sempre aprendeu a olhar pelos outros, por todos os outros.

Quantas vezes minha mãe reclamava da quantidade de reuniões que ele tinha, uma noite era Igreja, outra partido, outra ainda a ajuda em um ong que estava sendo criada, mas eu e minha irmã nunca sentimos sua falta. Sua presença íntegra e de bom pai sempre esteve presente e até hoje é o maior exemplo de caráter que temos!

Hoje meu super-herói faz 60 anos e rezo todos os dias para que complete outros mais, pois se já foi um grande pai, ele ainda há de ser um grande avô! Pai, te amo! Que você esteja rodeado de carinho hoje e sinta meu beijo e meu abraço em seu coração!

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Márquez viveu e contou, como poucos, uma boa história

Durante a faculdade, li “Memória de Minhas Putas Tristes”, mas foi com a obra-prima “Cem Anos de Solidão”, em 2010, que fiquei encantada com a literatura do colombiano Gabriel García Márquez. Em dezembro do ano passado, achei a autobiografia dos anos de sua infância e juventude, chamada “Viver para Contar” (2002), no sebo por R$ 30 e comemorei minha boa aquisição.

Sendo apaixonada pelos livros de Isabel Allende, vejo nela e em Márquez o que deve ser essencial em um escritor: a excelência em contar uma boa história, de maneira simples e instigante, quase parecendo uma conversa. Ambos souberam transformar a trajetória de suas famílias em grandes obras.

Em “Viver para Contar” é possível conhecer os avós do colombiano, coronel Nicolás Ricardo Márquez e Tranquilina Iguarán, e ver neles traços característicos dos personagens de “Cem Anos de Solidão”. A história da autobiografia do escritor começa quando sua mãe, Luisa Santiaga, pede que ele a acompanhe até Aracataca para vender a casa da família.

Créditos: Revista Fórum
Em cidades da Colômbia, o leitor acompanha a infância pobre do escritor, inicialmente na casa de seus avós e depois nas inúmeras residências de seus pais, que tiveram ao todo 11 filhos. O pai de Gabito, como era chamado pela família, sonhava em ver o filho graduado em uma universidade, mas o sonho de escritor falou mais alto e causou o abandono dos estudos em Direito.

Dois aspectos são comuns a outras obras da literatura latino-americana de países de colonização espanhola: a sensualidade, com os episódios em noites de festas em prostíbulos e inúmeros casos amorosos intensos, e a mistura de raças, especialmente entre índios e espanhóis.

É muito interessante acompanhar a paixão sem limites de Gabito pelos livros, como os de Faulkner, e sua dificuldade em finalizar seu primeiro romance. Com um grupo de amigos especialistas em literatura e outras artes, o escritor é criticado e se mostra ele próprio um crítico ferrenho de seus primeiros textos, que surgiram na forma de contos para revistas.

Como jornalista, talvez o que me tenha chamado mais atenção, foi acompanhar a chegada da paixão pelas reportagens e pelo trabalho nas redações. Márquez conta como começou sua carreira na profissão, inicialmente em espaços editoriais e depois com as grandes reportagens, umas delas com 20 capítulos sobre a história de um naufrágo, que mais tarde foi organizada na forma de livro.

Ele conta histórias de um tempo em que o jornalismo era mais arte e instinto do que técnica e números. Ainda dá uma dica que todos acabam descobrindo no desenrolar da profissão: “Até hoje sabemos que os gravadores são muito úteis para recordar, mas não se deve descuidar nunca da cara do entrevistado, que pode dizer muito mais que a sua voz, e às vezes o contrário do que está dizendo.”

Para quem trabalha no jornalismo digital, em que muitas vezes as entrevistas são feitas por telefone, sente-se a falta do contato pessoal com a fonte.

A história política da Colômbia também pode ser acompanhada pelo livro. Após uma briga de anos entre conservadores e liberais, o poder acaba tomado pelos militares. Independente de quem estava à frente do país, este vivia sob pressão contínua, com violência e tensão que acabaram causando a viagem de Gabito para a Europa, episódio final do livro.

Infelizmente, Gabriel García Márquez está senil e não voltará a escrever, mas foi devidamente reconhecido ainda em vida pela sua obra, que permanecerá na estante de clássicos da literatura mundial.